segunda-feira, 27 de junho de 2011

NOSSA GRATIDÃO

Em 10 de junho de 2004, teve início a Comunhão Reformada Batista no Brasil, associação religiosa sem fins lucrativos, formada por indivíduos (homens e mulheres) que, mesmo em denominações diferentes, possam subscrever a "Confissão Batista de 1689". O primeiro congresso e assembléia inaugural dessa organização aconteceram em Petrolândia, cidade de 29.000 habitantes no sertão pernambucano, nos dias 09 a 12 de junho. O congresso contou com 100 inscritos, provenientes de diversos recantos e grandes centros de nosso país. A CRBB, que nasceu da iniciativa exclusiva de crentes brasileiros, é, ainda, uma organização modesta, tanto em número de associados, quanto em sua estrutura e abrangência.
Ao darem início a CRBB, seus membros não podem deixar de expressar publicamente sua gratidão a Deus, inclusive por nossos irmãos em Cristo neste país. Não obstante sua particular eclesiologia batista, os irmãos que integram a CRBB reconhecem que compartilham uma base de fé bem mais ampla e comum a outros evangélicos nas mais diferentes épocas e lugares desta pátria, aos quais honramos e de quem muito temos recebido. Somos gratos a Deus por isto e, especialmente, pelo imenso legado reformado que temos recebido de outros irmãos no Brasil.   
O Brasil foi e continua sendo um país majoritariamente católico romano. Os batistas não foram os primeiros evangélicos a se estabelecerem no Brasil. Em 1557, chegaram ao Rio de Janeiro três pastores e 14 estudantes, enviados pela Igreja Reformada sob a orientação de João Calvino, para cuidarem da vida espiritual da colônia francesa e ministrarem catequese aos índios. O primeiro culto evangélico no Brasil foi realizado na quarta-feira 10 de março de 1557, na Baía de Guanabara, quando o Pastor Pierre Richier pregou no Salmo 27.4, e foi cantado o Salmo 5 conforme música do Saltério de Genebra. Essa missão durou somente dez anos e terminou com o martírio de cinco de nossos irmãos.
No século seguinte, no nordeste do país, chegaram os primeiros colonos holandeses ao Brasil, tendo dominado uma grande área daquela região, de 1630 a 1654. Com eles também vieram alguns pastores reformados holandeses. Esses ministros, calvinistas, eram fiéis à sua missão, cuidando dos seus rebanhos e pregando o evangelho aos indígenas. Pregavam em português e traduziram o Evangelho para uma língua indígena. Após certo período de trabalho, os holandeses foram expulsos do Brasil, e seus templos religiosos passaram a ser usados pelos católicos, bem como seu grande patrimônio e legado. Os sinais de sua catequese indígena desapareceram com o tempo.
A ação da monarquia católica lusitana, da Companhia de Jesus e da Inquisição, com o Tribunal do Santo Ofício, resultou em que, ao iniciar-se o século XIX, não havia no Brasil vestígio de Protestantismo, para o qual o país estava hermeticamente fechado. A fé evangélica só lançou raízes concretas no Brasil quando, no início do século XIX, a Coroa Portuguesa estabeleceu-se no Brasil, no tempo da guerra napoleônica. Chegou, em 1812, o primeiro ministro evangélico britânico, para ministrar aos ingleses no Brasil, mas com proibição de atividade missionária. Por volta de 1824, a mesma “tolerância” concedida à Igreja Anglicana era estendida aos luteranos da Alemanha e Suíça e a outros grupos evangélicos. Os metodistas episcopais norte-americanos estabeleceram missionários no Rio de Janeiro em 1835.
Porém, foi mais propriamente na segunda metade do século que teve início a obra missionária evangélica no Brasil, quando o governo monárquico brasileiro tentou afastar a tutela da hierarquia católico-romana. Pode-se afirmar que a obra protestante permanente, entre os brasileiros de idioma português, só começou em 1855. Tratava-se de um começo cauteloso e pequeno, aos cuidados de um médico missionário escocês, Robert R. Kalley, e sua esposa. Ele fora preso, longe de sua pátria, e quase perdera a vida por causa das perseguições inspiradas pela Igreja Romana na Ilha da Madeira, onde foi apelidado de “O Lobo da Escócia”. Dr. Kalley, talvez o mais notável pioneiro evangélico no Brasil, desembarcou com sua esposa na baía do Rio de Janeiro, onde estava a Corte, no dia 10 de maio de 1855. Era de origem presbiteriana; todavia, no Brasil, ele veio a defender a forma de governo congregacional. Três meses depois de sua chegada, o casal Kalley começava as atividades de sua primeira Escola Dominical e, depois de três anos, a 11 de julho de 1858, organizou a primeira igreja evangélica de fala portuguesa, que deu origem ao congregacionalismo brasileiro. Kalley tornou-se um marco na história das missões e um pioneiro reverenciado no vasto mundo de língua portuguesa.
A seguir, vieram outros pioneiros notáveis, entre os quais Ashbel Green Simonton, missionário da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos da América, tendo sido organizada a primeira igreja presbiteriana em 1862. Os metodistas estabeleceram seu trabalho em 1867 e, sob os esforços do missionário Junius E. Newman, organizaram a primeira igreja metodista do Brasil em 1871, inicialmente com cultos somente em inglês. 
Os batistas no Brasil tiveram início com colonos alemães e norte-americanos que, estabelecendo-se neste país no século XIX, organizaram igrejas com cultos em seus idiomas de origem. Já em 1851, os Batistas do Sul dos Estados Unidos, seis anos após sua organização, cogitavam enviar missionários para o Rio de Janeiro. E, em 1859, a Junta de Missões Estrangeiras da Convenção do Sul dos EUA, com sede em Richmond, Virgínia, após cuidadosos estudos, assumiu o Brasil como um campo missionário novo, para cá enviando seu primeiro missionário.
Entretanto, o trabalho batista ganhou impulsão com os pioneiros William Buck Bagby (1855-1939) e Zachary Clay Taylor (1851-1919), com suas respectivas esposas. Esses denodados proclamadores do evangelho fundaram igrejas em Salvador, Bahia, Sé do Arcebispo e a cidade mais ferrenhamente católica do Império, em 15 de outubro de 1882, e no Rio de Janeiro, onde estava a Corte, em 24 de agosto de 1884. E, desde então, o testemunho batista tem sido levado adiante em todo este país, pela graça de nosso bom Deus, e com o suor e sangue de nossos irmãos fiéis.
Portanto, a história dos Batistas no Brasil é, inegavelmente, em maior medida, a história do trabalho missionário da Convenção Batista do Sul dos EUA e os frutíferos labores no âmbito da Convenção Batista Brasileira, organizada em 1907. Entretanto, não se deve ignorar o grande empenho de outros grupos, agremiações e líderes batistas em nosso país, tanto de origem missionária estrangeira, como também originados do labor de igrejas e líderes nacionais. No século XX, muitas igrejas no Brasil surgiram como resultado da obra missionária de grupos batistas fundamentalistas, especialmente norte-americanos, tais como os Batistas Regulares e os Batistas Bíblicos, entre outros.
Particularmente, somos muito gratos a Deus pela influência que temos recebido do recente movimento de reforma entre os batistas, que teve origem nos países de língua inglesa, mas que, vigorosamente, tem se espalhado por todo o mundo na atualidade.
Sempre houve, entre batistas no Brasil, indivíduos que sustentavam uma soteriologia calvinista. Igualmente, a Confissão de Fé mais conhecida e subscrita por igrejas e agremiações batistas no Brasil (Confissão de Fé Batista de New Hampshire) é uma exposição doutrinal de notável influência calvinista. Porém, nas últimas décadas é que se assiste a um movimento consistente e mais abrangente de reforma, pelo qual somos muito agradecidos.
No Brasil, neste recente movimento de reforma, faz-se necessário destacar a influência do pastor batista norte-americano J. Richard Denham Jr. que, acompanhado de sua esposa, Pearl Armem Denham, iniciou sua obra missionária em 1952 no estado do Amazonas, de forma independente, isto é, sem o sustento específico ou formal de qualquer junta ou denominação. Ocuparam no Brasil diversas áreas e frentes de ministério, arrostando, em alguns momentos, difíceis adversidades e até perseguições. No transcurso dos 10 anos que estiveram no estado do Amazonas, abriram a Livraria Evangélica Lar Cristão, em Manaus. Em 1964, mudaram-se para São Paulo e continuaram com o ministério de literatura, conduzindo uma livraria no centro de São Paulo, até que, em 1966, publicaram a Revista Leitor Cristão. Dois anos depois, começou a crescer esse trabalho, que originaria, mais tarde, a Editora Fiel da Missão Evangélica Literária. A Editora FIEL tem realizado abençoado,  notável e crescente ministério de conferências anuais para pastores e líderes, que, no Brasil, completa 20 anos. Hoje, essas conferências se estendem também a outros países de língua portuguesa. Um criativo ministério de apoio a pastores foi organizado e uma revista tem sido enviada gratuitamente a milhares de pessoas no Brasil, assim como nos cinco continentes. A Editora Fiel tem, atualmente, mais de 130 títulos publicados de boa literatura reformada.
O Sr. Denham faz parte da primeira geração de líderes norte-americanos, nesse recente movimento de reforma entre os batistas. E ele é testemunha da importância da revista e organização britânica The Banner of Truth, que Deus usou para abrir-lhe os olhos à fé bíblica sustentada pela Reforma.
Outra grande contribuição tem sido prestada por Sr. William Barkley, missionário britânico irlandês, ex-ovelha do Dr. Lloyd-Jones, que iniciou seu ministério de literatura no Brasil gerenciando, de 1963 a 1964, a Livraria do Lar Cristão em Manaus, para Sr. “Ricardo” Denham. Em 1966, tornou-se proprietário da livraria, que conduziu até 1974. Mudando-se para São Paulo, fundou a Biblioteca Evangélica do Brasil, administrando-a até 1996. Essa foi a primeira biblioteca pública evangélica registrada no Brasil. No período de 1976/77 publicou os dois primeiros livros e, em 1977, registrou a PES - Publicações Evangélicas Selecionadas. Em 2004, a PES tem, publicados em português, 69 livretos e 75 livros e prossegue, incansavelmente, preparando a publicação de outras literaturas reformadas de grande valor. Publicações Evangélicas Selecionadas revelou-se uma organização de estrutura simples, mas muito valorosa.
O Projeto “Os Puritanos” nasceu em 1992, com o desejo de resgatar a Fé Reformada, especialmente as Antigas Doutrinas da Graça. Um grupo, composto principalmente por irmãos presbiterianos, reuniu-se no nordeste brasileiro, inicialmente com o desejo de traduzir o livro “Os Puritanos, Suas Origens e Seus Sucessores”, de autoria de Dr. Lloyd-Jones, e que depois foi publicado pela editora PES. Mas o projeto ampliou-se, e “cresceu o desejo de lutar por uma reforma na igreja do Brasil”. O grupo logo constatou a repercussão da literatura reformada das editoras FIEL e PES em suas vidas. Teve início um pequeno jornal, com artigos que julgavam importantes para o povo de Deus. O jornal, posteriormente, transformou-se em uma revista mais elaborada, com maior número de artigos e o apoio de uma grande gráfica. O Simpósio “Os Puritanos” passou a ser realizado anualmente, “com vistas à edificação, encorajamento e despertamento da igreja para a Fé Reformada”. Algumas igrejas também convidaram o Projeto “Os Puritanos” para realizar palestras em outras cidades e estados. Muitos foram despertados e passaram a apoiá-lo, além de provarem uma grande reforma em suas vidas e ministérios. Hoje, o Projeto “Os Puritanos” tem excelente relacionamento com pastores e mestres do exterior que têm participado com alegria dos Simpósios. A editora Os Puritanos e o CLIRE (Centro de Literatura Reformada) já  contam com mais de quarenta títulos publicados. O grande desejo do Projeto “Os Puritanos”, como nos informam seus líderes, é acender "uma chama que, pela graça de Deus, nunca seja apagada", a saber, a chama da verdade Bíblica e Reformada. Tal como os puritanos do século XVII, estes irmãos têm expressado sua total dependência de Deus, lembrando-se das palavras do Senhor: "...sem Mim nada podeis fazer".
Edições Vida Nova, implantada no Brasil sob a liderança de Dr. Russell P. Shedd, e sediada em São Paulo, também contribuiu grandemente para prover a liderança evangélica no Brasil com literatura de qualidade. Particularmente, a publicação de alguns bons títulos da tradição reformada influenciou-nos muito positivamente. Os cristãos reformados neste país devem muito aos esforços dessa editora, especialmente na década de 80 e começo dos anos 90.
Nos anos recentes, algumas outras editoras têm publicado riquíssima literatura de conteúdo reformado. Não podemos evitar a menção à Editora Cultura Cristã, cuja razão social é Casa Editora Presbiteriana, editora oficial daIgreja Presbiteriana do BrasilOrganizada em 25 de fevereiro de 1948, nos últimos anos essa editora tem expandido grandemente seu leque de literatura reformada, e chega ao presente momento com um significativo número de livros publicados. Mas não se trata apenas de quantidade. A editora tem se esforçado para oferecer ao público obras de valor. Um exemplo disso é A Bíblia de Estudo de Genebra, que não tem similar no Brasil, especialmente pela coerência doutrinária do seu texto e pela riqueza do seu conteúdo. É, atualmente, a Bíblia de Estudo mais vendida no Brasil. Outro segmento a que esta editora tem se dedicado é o de material didático para a escola dominical. Ela oferece um currículo completo (para todas as faixas etárias), inclusive dois cursos alternativos para classes de jovens e de adultos. Podemos dizer com segurança que a Editora Cultura Cristã é, atualmente, a editora que mais livros publica numa linha coerentemente Reformada, e, seguramente, uma das mais influentes.
Também somos gratos a Deus pela influência exercida pela fé reformada em alguns seminários no Brasil, onde alguns professores vêm lutando por assentar um ensino teológico consistente com a inerrância e suficiência das Escrituras e por uma retomada da ortodoxia reformada. Vários desses professores têm sofrido severas oposições, alguns até mesmo perdendo suas cátedras. Entretanto, tanto pela cátedra quanto por sua literatura teológica, esses professores muito nos têm abençoado.
Finalmente, os membros da CRBB, conquanto reconheçam-se eternamente devedores quanto ao legado que receberam, não desejam transmitir a impressão de que têm uma concepção idealista desse legado. Temos, sem dúvida, o que lamentar em toda a peregrinação evangélica neste país e, particularmente, batista. Também nos arrependemos dos erros cometidos em nossa geração, alguns dos quais nós mesmos temos protagonizado. De igual modo, não temos interesse em dar a este legado uma conotação estática. Desejamos fazer o caminho de volta às Escrituras, examinando-nos constantemente. E não o fazemos simplesmente porque os puritanos ou outros irmãos do passado o fizeram, ou porque outros reformados contemporâneos o fazem. Nós almejamos fazer tudo o que vemos revelado em nossas Bíblias como sendo a vontade de Cristo para seu povo.
Assim sendo, nossa principal bandeira não são os títulos ou apelidos históricos que recebemos, tais como “batistas” ou “reformados”. Damos valor a esses títulos, em seus significados doutrinários e proposicionais. Porém, nossa preocupação maior não está em que todos entre nós se autodenominem “batistas” ou “reformados” na acepção histórica dessas palavras. Nossa bandeira é a Palavra de Deus, e adotamos a “Confissão Batista de 1689” como uma fiel exposição de doutrinas emanadas das Sagradas Escrituras. Como nossos pais faziam distinção entre a fides qua creditur (a fé com a qual se crê) e a fides quae creditur (a fé em que se crê), com nossa Declaração de Fé estamos dizendo: "Credo, ergo confiteor" (Creio, por isso confesso). Não fazemos nossa principal bandeira os interesses particulares de uma denominação, mas, sim, anelamos por estar concordes nesta mesma identidade doutrinária.
Ao Senhor, toda Glória!

6 comentários:

  1. Graça e Paz. Sou pastor batista na convenção brasileira e não conhecia parte dessa história e a CRBB. Li os textos e me interessei, infelizmente não poderei participar do congresso, mas gostaria de receber informações de vocês bem como indicações de literatura. Meu email: hilton_teo@hotmail.com - Fone(14)9661-8845

    Abraços no Senhor
    Pr Hilton

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  2. Ahh ! Eu batista desde pequenina(confesso que ainda não cresci muito)rsrsrsrs amei encontrar esta página. seguirei a CRBB.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. É um prazer poder compartilhar da Graça salvadora e irresistível de Cristo com este espaço. Não só o sigo, mas o divulgo hoje em meu blog porque acredito que aqui podemos desfrutar da paz de Cristo através das Sagradas Escrituras e das reflexõs doutrinarias deixadas por nossos antigos irmões que já partiram, mas nos deixaram um legado para que hoje, nós, os que estamos vivos possamos perpetuar as Antigas Verdades deixadas ao longo da história. Espero poder contribuir com a CRBB.

    Soli Deo Gloria.

    Att,
    José Eduardo
    Café Batista.

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  5. Parabéns pela comunhão reformada batista.

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  6. Sou batista. Pertenço a uma igreja filiada à CBB (Convenção Batista Brasileira). Nos últimos 02 anos tenho entrado em contato maior com a teologia reformada e hoje estou convencido que esta teologia é a mais bíblica. Tenho notado que não são poucos os batistas que também são calvinistas como por exemplo Franklin Ferreira, Rumbert Teixeira, John Piper, entre muitos outros.
    Entretanto, na igreja local na qual congrego, há um certo preconceito até mesmo com o termo "eleição" que por muitos é rejeitado como se fosse uma espécie de heresia. Sou professor de escola dominical e ultimamente temas relacionados a questões soteriológicas vem surgindo em aula e sempre acabo tocando de leve no assunto de uma forma ou outra, mas não estou defendendo explicitamente o calvinismo.

    Me incomoda de certa forma o fato de que escondo o meu calvinismo, por outro lado a minha intenção é não causar maior escândalo ou debates sem fim que produzam mais calor do que luz, se é que me entende.

    Como devo agir? Devo guardar o calvinismo somente para mim e compartilhar com os mais íntimos? Ou devo defender sem medo, expondo a doutrina explicitamente?

    Em caso de defender explicitamente, qual a melhor forma de fazê-lo sem gerar maiores atritos ou debates intermináveis?

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