Por Richard Barcellos
P1: Dr. Crampton, o Sr. poderia falar um pouco sobre você – família, educação, experiência ministerial, livros publicados, situação atual?
R1: Eu nasci em 1943 em Washington, D.C. Graduei no ensino médio em 1961 e na faculdade em 1965. Recebi um MBS pela Faculdade de Atlanta de Estudos Bíblicos, o Th.M. e Doutor em Teologia da Whitefield Theological Seminary, e um doutorado pela Escola Central de Religião, em Surrey, Inglaterra. Eu moro na Virginia, sou casado e tenho duas filhas casadas e cinco netos. Interesses gerais incluem, principalmente, da leitura (eu sou um leitor inveterado, principalmente sobre os assuntos de teologia e filosofia) e da escrita, mas também gosto de praticar algum “exercício” físico todo dia. Quanto à minha filiação eclesiástica, eu sou um batista reformado, e um defensor dos ensinamentos contidos na Confissão Batista de Londres de 1689 e o Catecismo Menor Reformado Batista. Nos últimos 25 anos pastoreei três igrejas e tive a oportunidade de pregar e ensinar em uma série de outras igrejas. Minha esposa e eu somos atualmente membros da Igreja Reformada Batista de Richmond, Virgínia.
Livros que eu escrevi incluem: What Calvin Says, Study Guide to the Westminster Confession, The Scripturalism of Gordon H. Clark, e By Scripture Alone, que foram publicados pela Trinity Foundation. Soli Deo Gloria publicou What the Puritans Taught e Meet Jonathan Edwards. Meu He Shall Glorify Me foi publicado pela Whitefield Press, e Blue Banner Ministries publicou Christ the Mediator [Cristo, o mediador; publicado no Brasil pela editora Monergismo], assim como também Built Upon the Rock, Toward a Christian Worldview [Em direção à uma cosmovisão cristã, idem], e So Great a Salvation (estes três últimos livros foram escritos em parceria com o Dr. Richard E. Bacon). Apologetics Press publicou Calvinism, Hyper-Calvinism, and Arminianism, que eu escrevi junto com o Dr. Kenneth Talbot, e a Reformation Heritage Books publicou A Conversation with Jonathan Edwards. Eu também tive uma série de artigos publicados em diferentes revistas cristãs, jornais, etc (The Blue Banner, The Confessional Presbyterian, The Trinity Review, New Southern Presbyterian Review, Chalcedon Report, The Christian Statesman, and Journey).
P2: Quanto tempo você brigou com a questão relacionada ao batismo?
R2: Eu estive lutando com a questão do pedobatismo versus credobatismo por quase vinte anos.
P3: Quais são os principais problemas que você encontrou com o pedobatismo que motivaram você a continuar estudando?
R3: Existem vários problemas que me incomodaram sobre a doutrina do pedobatismo. Eu vou mencionar apenas um, e este é que não existe simplesmente nenhum texto no Novo Testamento onde há alguma menção de batismo de infantes. Este problema é admitido por alguns dos mais refinados teólogos pedobatistas que escreveram sobre o tema. Isso significa, conforme admitido e ensinado por estes teólogos pedobatistas, que nós devemos voltar ao Velho Testamento para estabelecer a doutrina. Quando se volta ao outro sacramento do NT, a Ceia do Senhor, entretanto, os teólogos pedobatistas não aplicam o mesmo princípio hermenêutico. Ou seja, os recebedores da Ceia do Senhor são determinados pelo ensino do NT em vez do ensino do VT. Essa inconsistência aqui é evidente. Outro problema aqui é que o VT não menciona sequer batismo de infantes. O que esta hermenêutica assume é que o pacto Abraamico, onde os infantes machos eram circuncidados, ainda continua valendo na igreja do NT realmente sobre a base de um para um, e, portanto, os infantes dos crentes devem ser batizados. Existem tantas dificuldades aqui (as quais eu escrevo sobre em meu livro) que elas são numerosas demais para lidar em uma entrevista como essa. O mais sério erro cometido é o de sobrecarregar a continuidade do Velho e do Novo Pacto em detrimento da descontinuidade entre ambos. A doutrina dos Batistas Reformados não é em sentido algum dispensacionalista; antes, ela é totalmente pactual. Ela reconhece que há certamente uma continuidade entre os dois pactos, mas existe também uma descontinuidade que deve ser vista (veja Jeremias 31:31-34; compare Hebreus 8:6-13).
P4: Quais são alguns dos livros que o ajudaram ao longo do processo ao credobatismo e você pode nos falar um pouco sobre alguns ou todos eles?
R3: Há uma série de livros que tiveram influência em meus estudos sobre este assunto. Vou listar alguns dos mais persuasivos: The Baptism of Disciples Alone de Fred Malone, Antipaedobaptism in the Thought of John Tombes de Mike Renihan, A Treatise on Baptism de Henry Danvers, Children of Abraham de David Kingdon, Biblical Baptism: A Reformed Defense of Believer’s Baptism de Samuel Waldron, Paedobaptism or Credobaptism? de Richard Barcellos, e especialmente Infant Baptism and the Covenant of Grace de Paul K. Jewett. Mas talvez os estudos que foram mais convincentes do que qualquer outra coisa foram duas séries de palestras, uma foi “O grande debate sobre o Batismo e o Pacto” de William Einwechter e a outra foi a série de fitas do Pastor Greg Nichols sobre o “Batismo Infantil”. Também é interessante que as tentativas “falhas” de vários livros pedobatistas tiveram uma grande influência na minha maneira de pensar sobre este assunto. Ou seja, os defensores do batismo infantil simplesmente não respondem às questões levantadas contra o pedobatismo.
P5: Você acha que o batismo infantil viola a doutrina da Confissão de Westminster, do princípio regulador do culto? Se sim, como?
R5: Sim, eu acredito que a prática do batismo infantil é uma violação do “princípio regulador” de culto. Eu explico isso em algum detalhe em meu próximo livro sobre o assunto, mas (como citado em meu livro), basicamente, o problema é este: Se não houver ordem expressa dada nas Escrituras para batizar crianças, e se não há nenhuma evidência direta para a prática do batismo infantil, portanto administrar o batismo de crianças no culto de adoração é uma violação do princípio regulador. Eu sugeriria que aqueles que se interessam em saber mais sobre este assunto, vejam o que eu disse em meu livro. Fred Malone também lida com esta questão em seu ‘The Baptism of Disciples Alone’ [O batismo de discípulos apenas].
P6: Qual é a relação entre circuncisão e batismo em seu atual pensamento e como tipicamente os pedobatistas a vêem?
R6: Pedobatistas usualmente vêem essa relação entre circuncisão e batismo em água na base de “um por um”. Ou seja, eles vêem dois “sacramentos” (circuncisão no VT e batismo em água no NT) com uma pequena ou nenhum diferença exceto pela administração do ritual por si mesmo. Conforme expresso na Confissão de Fé de Westminster: “Os sacramentos do Velho Testamento, quanto às coisas espirituais por eles significados e representados, eram em substância os mesmos que do Novo Testamento”[1]. Há um sentido em que isso é verdade, na medida em que, tanto no Antigo como no Novo Testamento, todas as coisas apontam para Cristo e Sua obra salvífica na cruz. Mas, enquanto a circuncisão no Antigo Testamento era para Abraão e sua descendência (masculina) física, que têm a ver com o relacionamento entre o povo de Israel e da terra prometida de Canaã, como explicado por Paulo no Novo Testamento o batismo da água representa a circuncisão do coração, que já foi regenerado (Colossenses 2:11-12, Filipenses 3:3). Os sacramentos do Novo Testamento são para aqueles que já foram convertidos, aqueles que já tiveram seus corações transformados pela obra salvífica da Cruz de Jesus Cristo. Então, há uma diferença significativa entre a circuncisão da comunidade da Antiga Aliança (que lida com a semente física de Abraão), e a comunidade da Nova Aliança (que tem a ver com a semente espiritual de Abraão).
P7: Como a Nova Aliança não é como a aliança que Deus fez com os Pais?
R7: Eu já parcialmente lidei esta questão acima, mas gostaria de acrescentar que, segundo Jeremias 31 e Hebreus 8 a diferença entre a Antiga Aliança e a Nova Aliança é que a Antiga era quebrável enquanto que a nova não é. A Velha estava mais envolvida com a semente física, enquanto que a Nova está mais preocupado com a semente espiritual. Segundo as duas passagens citadas acima a comunidade do Novo Pacto é constituído por aqueles que “conhecem o Senhor.” É para crentes e não crentes e sua descendência infantil.
P8: A posição Batista Reformada repudia a Teologia do Pacto? Por favor, explique.
R8: É verdade que alguns pedobatistas alegam de que a posição Batista Reformada sobre o batismo infantil nega a teologia do pacto. Mas isso é um equívoco sobre o ensino da igreja Batista Reformada. O sétimo capítulo da Confissão Batista de Londres 1689, que é intitulado “Da Aliança de Deus”, refuta essa falsa alegação. Como James Renihan explicou, batistas reformados crêem que “a estrutura da Escritura é definida propriamente por… teologia do pacto,” e “compreender este fato é compreender a arquitetura central de toda a Bíblia.” Por esta razão, “batistas reformados confessionais são… abertamente adeptos da teologia do pacto.” Mais ainda, os batistas reformados acreditam que uma compreensão adequada da teologia do pacto demanda o batismo de discípulos ou confessional, porque ele faz justiça a ambos, a continuidade e a descontinuidade do pacto.
P9: Como você responde a isso: “A inclusão de infantes no Pacto da Graça é a essência do Pacto da Graça”? (Estou pensando especificamente no fato de que os Padrões de Westminster ensinam que o Pacto da Graça foi revelado pela primeira vez em Gen. 3).
R9: Declarar que a inclusão infantil no Pacto da Graça é a essência do Pacto da Graça é uma afirmação errônea. A razão é que, como alegado pelo Catecismo Maior de Westminster, o Pacto da Graça é com os eleitos. Portanto, aderir que infantes sejam incluídos no Pacto da Graça implicaria na crença da doutrina da “eleição presumida”, uma presunção que é sem a autorização bíblica. Eu lido com este assunto em meu livro.
Fonte original: Interview with Dr. Crampton (from paedobaptism to credobaptism) – Midwest Center for Theological Studies
Tradução livre: Luis Henrique de Paula.